De manhã, o relógio desperta. Você se levanta, toma um café rápido e se prepara para o trabalho. Começa o ritual de encarar a cidade. Para muitos paulistanos, esse ritual é uma verdadeira batalha. Não contra o tempo, mas contra o próprio espaço urbano. É o tempo que você perde parado no trânsito, a hora que poderia estar com sua família, o momento que poderia estar investindo em si mesmo.
A história da mobilidade em São Paulo é a história de um ciclo vicioso. O inchaço populacional e o crescimento desordenado levaram à supremacia do carro. A prioridade não foi o ser humano, mas o veículo. O resultado? Em 2023, a cidade registrou uma média de 445 quilômetros de engarrafamentos todos os dias, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Para colocar isso em perspectiva, é como se uma fila de carros se estendesse de São Paulo a Curitiba, todos os dias. São quilômetros e quilômetros de trânsito, linhas de metrô e ônibus superlotadas e uma sensação constante de exaustão que permeia o cotidiano.
O Custo Invisível
O problema da mobilidade ineficaz vai muito além da frustração de ficar preso no trânsito. O custo é real, mas muitas vezes invisível. A cada hora perdida em um engarrafamento, a economia da cidade também perde. Estudos mostram que a baixa produtividade causada pelo trânsito gera um impacto negativo significativo no PIB da região. O Brasil, por exemplo, perde em média mais de R$ 267 bilhões por ano por causa dos congestionamentos no caminho para o trabalho, o que representa quase 4% do PIB nacional. Para a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), a perda nas principais capitais brasileiras chega a 4,4% do PIB das metrópoles.
Mas o custo não é apenas financeiro. É também emocional e físico. A falta de tempo de qualidade impacta as relações familiares. O estresse constante do trânsito afeta a saúde mental. A poluição do ar e o sedentarismo resultante da dependência do carro trazem consequências graves para a saúde da população.
Uma Nova Narrativa é Possível
A questão da mobilidade não é um problema sem solução. Pelo contrário. Ao enxergar o problema, podemos começar a buscar alternativas, e o mundo nos dá exemplos claros.
Em Estocolmo, por exemplo, a cidade implementou um sistema de taxa de congestionamento. O dinheiro arrecadado com essa tarifa não desapareceu em um fundo sem destino. Em vez disso, foi usado para financiar a expansão do metrô, construindo novas linhas que servem áreas de alta densidade populacional. Isso não apenas reduziu o tráfego em até 10% em algumas áreas, mas também tornou a cidade mais acessível e reduziu as emissões de carbono.
Já em Seul, a solução veio na forma de um sistema de transporte público massivo e eficiente. O metrô da cidade tem mais de 900 km de extensão e transporta cerca de 2 bilhões de passageiros por ano. Além disso, o sistema de ônibus é integrado, com linhas identificadas por cores que facilitam o entendimento dos trajetos. Isso permitiu que a cidade desmantelasse vias expressas e as substituísse por áreas de convívio, como o revitalizado riacho Cheonggyecheon, mostrando que é possível priorizar as pessoas em vez dos veículos.
No final das contas, uma cidade que se move melhor beneficia a todos. Não pense na aumento da produtividade apenas como uma melhoria para o patrão ou a empresa que você trabalha mas como a oportunidade de ter mais tempo para você e para os outros. Imagine a cabeleireira que mora longe do salão. Se ela gasta menos tempo no trânsito, ela chega mais descansada, faz um trabalho melhor e consegue atender mais clientes. Da mesma forma, o atendente de caixa, com mais tempo livre, pode se qualificar e melhorar seu serviço, gerando um ambiente positivo que se espalha por toda a economia local.
É hora de mudarmos a narrativa. Deixarmos de aceitar que o trânsito é um mal necessário e começarmos a exigir uma cidade que funcione para as pessoas, e não contra elas. Mais investimentos em modais de transporte coletivo como metrô e trens, assim como a criação de espaços urbanos mais amigáveis aos pedestres, são ações que podem transformar a nossa cidade.
Ao repensarmos a forma como nos movemos, estamos, na verdade, repensando a forma como vivemos. E a mudança começa com a conscientização. Qual o seu papel nessa transformação?
Caso você concorde comigo, envie esse texto para seus amigos e grupos no whatsapp para que mais pessoas se conscientizem desse problema.
Fonte: Comparável a países inteiros, São Paulo chega aos 470 anos em meio a dilemas estruturais, Brasil perde R$ 267 bilhões por ano com congestionamentos, O custo econômico dos congestionamentos
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