A cotação do dólar iniciou a semana em forte alta frente ao real, contrariando as expectativas do mercado financeiro após o anúncio de um novo acordo comercial entre Estados Unidos e China. Mesmo em meio a um ambiente de aparente otimismo global, a moeda americana subiu, refletindo um conjunto de fatores econômicos e geopolíticos que influenciaram diretamente a demanda por ativos em dólar.
Acordo EUA-China Impulsiona o Dólar e Não o Real
Por volta das 9h50 (horário de Brasília), o dólar à vista registrava valorização de 0,47%, cotado a R$ 5,680 para compra e R$ 5,681 para venda. O dólar futuro com vencimento em junho — o mais negociado na B3 — subia 0,57%, negociado a 5.707 pontos. No mercado de turismo, a moeda era vendida a até R$ 5,919.
O movimento de alta ocorreu mesmo após o anúncio de uma trégua tarifária significativa entre as duas maiores potências econômicas do mundo. Em reunião realizada na Suíça, Estados Unidos e China concordaram em reduzir substancialmente as tarifas punitivas impostas desde abril. Os EUA recuaram suas tarifas de 145% para 30% sobre produtos chineses, enquanto Pequim reduziu suas taxas de 125% para 10% sobre importações americanas. O acordo terá vigência inicial de 90 dias.
Embora o pacto comercial tenha sido recebido positivamente pelos investidores globais, a resposta no mercado brasileiro foi inversa: o dólar se fortaleceu em relação ao real. A razão está no aumento da confiança em relação ao crescimento econômico dos Estados Unidos, o que atraiu investidores novamente para os ativos norte-americanos.
Alta dos Treasuries Reforça Demanda por Ativos em Dólar
Além do otimismo com a retomada do crescimento nos EUA, os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano — os Treasuries — também subiram, tornando os investimentos americanos ainda mais atrativos. O título de dois anos (US2YT=RR) subiu 12 pontos-base e alcançou 4% de rendimento.
Essa elevação reduz as chances de cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, reforçando a percepção de estabilidade e retorno elevado nos investimentos denominados em dólar. Esse fator contribuiu diretamente para a valorização da moeda americana frente a diversas moedas emergentes, incluindo o real.
Incertezas Internas no Brasil Agravam a Pressão Cambial
No plano doméstico, o mercado financeiro brasileiro continua pressionado por uma série de incertezas políticas e econômicas. Mesmo com o alívio no cenário externo, os desafios internos pesam sobre a taxa de câmbio.
Entre os destaques do dia, a entrevista concedida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao portal UOL gerou ruído entre os agentes do mercado. Somam-se a isso as projeções divulgadas pela pesquisa Focus do Banco Central, que sinalizam uma possível pausa no ciclo de alta da Selic — a taxa básica de juros — reduzindo o apelo dos ativos brasileiros frente aos investidores internacionais.
Com um cenário de juros menos atrativos e dúvidas sobre a trajetória fiscal do país, os investidores tendem a buscar refúgio em moedas mais fortes e economias mais previsíveis, como os Estados Unidos.
Geopolítica Global: Ucrânia, Rússia e Novos Desdobramentos
Outro elemento que complica ainda mais o panorama são os desdobramentos no leste europeu. Analistas acompanham atentamente a possibilidade de uma reunião entre líderes da Ucrânia e da Rússia, que pode alterar o equilíbrio geopolítico e afetar a confiança dos mercados emergentes.
Investidores mantêm postura cautelosa diante dessas tensões, reforçando a preferência por moedas consideradas “porto seguro”, como o dólar americano.
Resumo: Dólar Avança com Acordo EUA-China, Mas Real Enfraquece
Apesar do cenário de trégua comercial e menor risco global, a valorização do dólar mostra que o real continua vulnerável diante de fatores externos e internos. O fortalecimento dos ativos norte-americanos, somado às incertezas econômicas no Brasil, justificam a tendência de alta da moeda americana nesta segunda-feira.
A leitura do mercado é clara: o apetite por ativos de risco diminui quando há percepção de que os EUA caminham para uma recuperação sólida e com juros mais altos. Enquanto isso, a economia brasileira ainda busca estabilidade e clareza na condução das políticas fiscais e monetárias.
FAQs
Por que o dólar subiu mesmo com o acordo entre EUA e China?
Apesar do clima de alívio global, o fortalecimento da economia dos EUA e o aumento dos juros dos Treasuries atraíram mais investidores para ativos americanos, valorizando o dólar.
A redução das tarifas entre os dois países não deveria beneficiar o real?
Em teoria, sim. Mas como os investimentos foram redirecionados para os EUA, o real acabou se desvalorizando.
Como os juros dos EUA impactam o dólar no Brasil?
Juros mais altos nos EUA aumentam a atratividade dos ativos em dólar, o que causa fuga de capitais de países emergentes como o Brasil.
Quais os riscos internos que pressionam o real?
Incertezas fiscais, cenário político instável e possibilidade de fim do ciclo de alta de juros no Brasil reduzem o interesse por ativos nacionais.
A tendência é que o dólar continue subindo?
Dependerá da continuidade da recuperação americana, dos próximos passos do Fed e da evolução do cenário interno brasileiro.
Como proteger meus investimentos diante dessa volatilidade cambial?
Diversificação em ativos dolarizados, fundos cambiais e investimentos no exterior são estratégias recomendadas.